O Superman de Zack Snyder e Christopher Nolan cumpre o que promete, e entrega o Superman para uma nova geração sem ferir os conceitos clássicos que cercam o último filho de Krypton.
Depois de Superman - O Retorno, uma homenagem milionária ao filme do Superman de 1978 estrelado por Christopher Reeve, não alcançar o sucesso desejado entre o público e a crítica, a Warner levou o primeiro super-herói das HQs de volta ao limbo cinematográfico onde Superman 4 o havia deixado décadas antes.
Essa não aceitação do público devia-se à falta de ação e ao roteiro um tanto arrastado da película. Uma pena, já que o filme não era tão ruim, mas ficou por isso mesmo. Anos se passaram, a trilogia do Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan trouxe uma nova era para o cinema baseado em quadrinhos e um novo filme do Superman, produzido por Nolan e dirigido por Zack Snyder, um diretor que divide opiniões, mas é especialista em blockbusters arrebatadores, veria a luz do dia.
E foi o que aconteceu, O Homem de Aço está aí, possivelmente para trazer um Universo DC compartilhado, como o dos quadrinhos, para a Tela Grande.
A sinopse: Clark Kent/Kal-El (Henry Cavill) é um jornalista de vinte e poucos anos que se sente alienado por poderes além da imaginação. Transportado de Krypton (um planeta alienígena avançado) para a Terra anos atrás, Clark se pergunta “Por que estou aqui?”. Moldado pelos valores de seus pais adotivos Martha (Diane Lane) e Jonathan Kent (Kevin Costner), Clark logo descobre que ter super-habilidades significa tomar decisões extremamente difíceis. E quando o mundo é atacado, Clark deve se tornar o herói conhecido como “Superman”, não só para brilhar como o último raio de esperança, mas para proteger aqueles que ama.
Para começar, é preciso dizer que O Homem de Aço não é o Superman de Richard Donner, e Henry Cavill não é e nem tenta ser Christopher Reeve. Portanto, esqueça a trilha sonora clássica (sim, em alguns momentos ela faz falta), Marlon Brando e a Krypton cheia de cristais. Depois do reboot da DC nos quadrinhos, e de Superman Terra Um, HQ de realidade alternativa com um Superman mais moderno alcançarem grande sucesso ao reintroduzir o Homem de Aço para uma nova geração, ficou claro que o novo Superman cinematográfico seguiria essa nova proposta. Ficou bem claro desde a primeira imagem de Cavill com uniforme sem o infame porém clássico calção vermelho sobre as calças.
Mas isso está longe de ser ruim. Ao contrário de O Espetacular Homem-Aranha, que em alguns momentos fere o material original ao tentar modernizá-lo, o Homem de Aço dá um novo ar ao azulão, mas sem desrespeitar o cânone.
Sim, a princípio é difícil identificar o escoteiro quando Henry Cavill explode centenas de prédios para enfrentar o Zod de Michael Shannon. Mas temos que nos lembrar que é uma história de origem, e o amadurecimento do herói se deve aos erros cometidos e às consequências de suas atitudes.
Na verdade, o Superman do filme, a trama e vários outros detalhes lembram muito o Superman de Superman - Terra Um, HQ lançada recentemente que mostra um Superman mais jovem lidando com o mundo, aparentemente numa realidade alternativa. Basta ler e assistir o filme para perceber várias semelhanças interessantes.
A trama aliás, é bem convincente. Alguns personagens não são tão bem explorados, como Perry White e a redação do Planeta Diário, por exemplo. Um aprofundamento que o final do filme claramente promete para a sequência.
O elenco está muito bem. O Jor-El de Russel Crowe não lembra nem de longe o de Marlon Brando, o que por um lado é bom, sendo essa uma franquia completamente nova. Os Kent de Kevin Costner e Diane Lane são muito mais profundos do que jamais havia se visto, seja no cinema ou em outras mídias. Ponto para os veteranos. Laurence Fishburne atua com a competência habitual e cumpre bem seu papel. Amy Adams é linda, e está muito bem como Lois Lane, mas mesmo sabendo que é uma nova versão, a mudança brusca da concepção de Lois Lane na telona causa um estranhamento inicial. E o relacionamento dela com o Superman, apesar de rápido, é bem contextualizado e chega a ser bem convincente.
A Faora de Antje Traue está ótima também. Fiel e obstinada, com um apetite pela destruição tão acentuado quanto a de sua contraparte do filme Superman 2 de 1980, a kryptoniana Ursa.
O Zod de Michael Shannon é impecável. Shannon em nenhum momento tenta imitar ou mesmo fazer uma alusão ao clássico Zod de Terence Stamp em Superman 2. O Zod de Shannon é calculista, extremamente articulado e inteligente, sem exageros. Shannon consegue criar um equilíbrio entre a megalomania e a obstinação, o que faz com que Zod seja ameaçador só de aparecer em cena.
E assim chegamos ao Superman de Henry Cavill. Como seus colegas de elenco, Cavill em nenhum momento tenta reproduzir o que foi visto anteriormente. Enquanto Christopher Reeve foi o Superman de sua geração (e continuará sendo por muito tempo), o de Cavill é o da nova. Sua atuação é excelente, e em vários momentos esquecemos que estamos assistindo Cavill. Parece que o Superman está ali, em movimento, algo que nenhum CG conseguiria sem uma atuação igualmente soberba.
Krypton está incrível, assim como todos os efeitos especiais da película. O vôo dos personagens, seu peso e textura são de cair o queixo, algo que o filme anterior não havia conseguido. Para quem reclamou da falta de ação em Superman - O Retorno, o filme é um prato cheio. Ação pura, com bastante CG e embates titânicos entre Superman e os kryptonianos. A batalha final com Zod chega a ser impressionante.
Um ponto negativo do filme, além dos furos de roteiro aos quais já estamos acostumados, é o exagero na destruição. Sim, são embates de proporções épicas entre titãs, mas a quantidade de destruição desenfreada realmente nos leva a refletir se o Superman salvou mais vidas do que tirou. Dá pra passar, mas realmente chega a incomodar.
O Homem de Aço é um ótimo filme. Cheio de ação e aventura, com uma trama bem amarrada e atuações sensacionais. Tem sim seus problemas, mas como produto de entretenimento cumpre muito bem o que promete e ainda deixa aquele gosto de quero mais. Está num nível superior a outros filmes do gênero lançados recentemente, e em nenhum momento decepciona quem realmente admira o personagem e compreende a necessidade de apresentá-lo a novas gerações.
Há 35 anos, o Superman de Christopher Reeve nos fez acreditar que o homem pode voar. O Homem de Aço nos faz, em tempos tão difíceis e menos inocentes, continuar acreditando.
E que venha a Liga da Justiça!